Contos ao borralho
Para que o tempo não apague as memórias dos nossos antepassados
Mezinha contra a azia (2)
Eu talho a azia
Com três peidos meus e três teus
Três de Maria de três do nosso cão
Vai te embora burro que já estas são
Reza para acabar com a azia
Narrada pela avó Palmira aos seus100 anos
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Mezinha contra a azia
Mezinha para talhar a azia
Talho a azia
Com seis marazalhas
Seis palhazalhas
Seis peidos meus
Seis de cão
Mamo-os todos
E fico são.
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Temporal 13 de Junho 1874
LEMENHE (antigamente, e mais etymologico, LAMENHI)
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No dia 13 de junho de 1874 pairaraam sobre estes sitios, fortíssimas trovoadas, que deixaram de si tristes vestigios em toddas freguezias atravessadas pelo ribeiro Rio Côvo, desde Cambezes, entre Lemenhe e Nine até á sua foz, no rio Cávado, perto de Barcellos.
Uma manga ou tromba d'agua que cahiu sobre o ribeiro, o fez immediataiamente engrossar e subir suas aguas a uma altura entre dois e tres metros; as quais correndo furiosas, arrastaram tudo a qquanto chegaram.
Torceu,quebrou ou arrancoiou um sem numero de arvores feitas, arrazoiou paredes sem conta, levando pedras enormes a grandes distancias. Desmantelou muitos moinhos e engenhos, arrazando completamraente alguns.
Varreu as sementeiras dos campos, abrindo n'ellas profundas escavações; afoggando algum gado e um homem de Gámil, que estava em um moinho, ,e fugindo para o telhado d'elle, d'ahi mesmo foi arrebatado pela corrente furiosa. Foi arrastado até á freguezia de Rio Gôyô.
Só esta freguezia perdeu com a cheia mais de 3 contos de réis, e as outras mais de 30.
Não ha memoria de outro similhante temporal.
PORTUGAL ANTIGO E MODERNO Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de Pinho Leal vol4
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Moinho do Marinho
Desde muito pequeno que me sentia intrigado pela existência de uma estrutura em pedra cuidadosamente trabalhada, situada junto á estrada nacional 14 em Arnoso Santa Maria.
Apesar de ser "contornada" por milhares de condutores que por ali passam diariamente, facilmente passa despercebida aos nossos olhos, quase como se fizesse parte desde sempre deste local.
Como forma de satisfazer a minha curiosidade deitei botas ao caminho para numa pequena exploração e conhecer melhor este local com os cuidados exigidos pela perigosidade deste troço de via e respeito pela propriedade que julgo ser privada.
Como ponto de partida sabia que esta estrutura se tratava de um antigo moinho, o que em pequeno me fazia imensa confusão por se encontrar longe de um rio e a sua arquitectura não apontar como sendo um moinho de vento.
Ao longo de anos fui questionando os mais idosos mas pouco se sabia, ou não se lembravam ou eram oriundos de outras freguesias e não sabiam nada sobre o moinho, o que me levou a crer que seria muito antigo.
Um dia em conversa com a D. Balbina, uma octogenária entretanto já falecida, consegui informação de que o "moinho do Marinho" , terá sido mandado construir por um grande agricultor de nome Marinho mas que terá trabalhado pouco tempo por falta de agua suficiente das "poças" para fazer a mó "girar". Quanto á data de construção não sabia mas lembra-se de ir para a escola, e nos seus sete ou oito anos ver o moinho a trabalhar. O que me leva a apontar a sua construção para meados dos anos 20 do sec. XX.
O moinho encontra-se em ruínas e parcialmente tomado pela vegetação. Trata-se de uma estrutura em granito com cerca de 3 x 2,5 metros e ainda apresenta no seu interior alguns vestígios do seu funcionamento.
Saída de agua de alimentação ao rodízio.
Pormenor de ferragem da porta.
Entalhes na pedra dos suportes da estrutura da cobertura
Alçado norte e escoamento de aguas
A mó fixa ainda permanece no interior do moinho.
Mas como seria possível colocar um moinho em funcionamento sem vento e longe de uma fonte de abastecimento de agua abundante como um rio ou ribeiro?
Ao longo de caminhadas pelas regiões mais a norte de Portugal e Galiza constatei e existência de moinhos em encostas de montanhas, sem cursos de agua próximas e movidos a agua, o que me ajudou a esclarecer este enigma.
Verifiquei que estes moinhos estavam sempre acompanhados de um reservatório em granito vertical ou perpendicular acompanhando a orografia do terreno.
Estes reservatórios acumulavam agua com a pressão que a gravidade possibilitava. Ao ser libertada, a agua saia com pressão e batendo nas pás fazia com que o rodízio girasse e consequentemente a mó que moía os cereais até que ficassem em farinha.
Este moinho também tem um cubo, ou reservatório de agua
Parte superior, entrada no cubo.
Interior do cubo
Parcialmente obstruido por folhas
Pormenor de "rasgo" para vedar a entrada de agua no cubo
Canal de alimentação de agua ao moinho
Nascente de mina proxima e que provavelmente seria uma das que alimentaria o moinho.
Esquema de funcionamento.
PSilva2015
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Proverbios
"Fui ao vizinho envergonhei-me, fiquei em casa arremediei-me."
Nota: Proverbio a proposito de pedir bens emprestados a vizinhos.
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Casa minhota SEC XX
Das minhas memórias....
A entrada da propriedade é vedada com um portão, ou antes, um cancelo em madeira. Os elementos da natureza e a força da gravidade fazem com que esteja empenado. Empurramo-lo e, embora com alguma resistência vai abrindo, raspando no chão marcando a sua passagem na terra. O Eirado que precede a entrada é macio ao caminhar pois é composto por fetos e mato. Vai mantendo a entrada limpa enquanto dura, depois vai estrumar a terra e é substituído por nova camada. A entrada principal da casa é uma pesada porta em madeira chapeada na sua base para a proteger dos elementos e assim prolongar a sua durabilidade. Á altura dos nossos olhos tem um pequeno postigo que depois de aberto deixa entrar algumas lucernas de sol para o interior. Uma pesada chave em ferro ferrugenta dá-nos acesso ao interior. A luz é escassa, mas passados alguns minutos os nossos olhos vão se adaptando ao ambiente permitindo-nos ver com alguma clareza.
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Cruzeiro da Quinta
Freguesia: Arnoso Santa Maria
Lugar: Lugar da Quinta
Data de construção: 1564
Cruzeiro de características muito especiais, é, quanto à constituição, do tipo completo, com cruz, coluna e pedestal e plataforma, embora da concepção e formas diferentes das habitualmente encontradas, o que naturalmente tem justificação na sua vetustez.
A cruz apresenta a figura do Crucificado e a sua haste superior é encabeçada com um alargamento na mesma face da figura que se nos afigura ser a legenda e que um revestimento de criptogâmicas talófitas não permite uma observação cuidada. Quer a cruz quer a figura tem em si e no seu conjunto expressão plástica de bom nível.
A face mais voltada a sul e percorrendo-as no sentido do movimento dos ponteiros do relógio, pode ver-se nesta figura humana e ler-se sobre ela na face inferior do capitel a expressão IOANES (João); esta edícula está muito corroída na parte superior da moldura.
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A seguinte , isto é a voltada a poente apresenta a figuração da "Pietá", termo italiano universalizado para designar a representação plástica do momento em que depois da descida da cruz é entregue à Virgem Maria o corpo de seu Filho
Depois na face seguinte uma figura isolada e na orla inferior do capitel os dizeres S. TIADD indicando assim que se trata da representação de S. Tiago.
A última das representações, a da face mais voltada a nascente é constituída por uma figura humana, em alçado frontal, com um chapéu que faz lembrar o tradicional chapéu dos peregrinos medievais a Compostela, tendo a mão direita apoiada num cajado e a esquerda erguida à altura do peito e segurando um livro; junto à perna esquerda do figurado e sobrepondo-a com indepência está representada uma perna reflectida, quase em ângulo recto pelo joelho à coxa que lhe corresponde, cujo topo superior encosta à aresta vertical da face do capitel.
Escapa-se-nos a interpretação do significado desta figura dupla e não encontramos explicação aceitável para o simbolismo do conjunto esculpido - uma figura a lembrar um peregrino a Compostela, os seus atributos, o cajado e o livro, e o membro inferior de uma outra figura em posição que antecede a primeira.
O pedestal tem na face mais voltada a poente uma inscrição em Português em três linhas com irregularidade no alinhamento, no ritmo e nas dimensões relativos dos caracteres. Julgamos que a interpretação mais correcta dos símbolos:
/DUARTE/MIZ ME MAN/DOV FAZER 1564.
Nota:- Esta inscrição leva-nos à seguinte leitura: "Este Cruzeiro foi mandado fazer por Duarte Moniz em 1564".
Cabe porém referir as seguintes dúvidas na interpretada como sendo um D, levanta uma indeterminação já que é de aceitar que sendo duas letras sobrepostas e assim além do D possa lá estar talvez um P. Outra dúvida está na data: a interpretação mais correcta do segundo algarismo, que admitimos ser um 5, pode ser posta em dúvida se bem que consideremos de baixa probabilidade tratar-se do símbolo de qualquer outro algarismo. De modo análogo julgamos correcta a leitura do sobrenome do autor do Cruzeiro apesar da exiguidade de símbolos.
Fotos: Paulo Silva
Fonte C.M. Vila Nova de Famalicão
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Proverbio
Trinta erros tem o amo e o criado que o serve
Deitar tarde e levantar cedo, comer pouco e ser alegre
Das memórias da avó Palmira aos 99 anos
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Lenda das Pedras Mouras
"Na bouça das Talhas na freguesia de Jesufrei do concelho Bracarense de Vila Nova de Famalicão, existem desde o tempo dos mouros, uma pedras feitas a picão, com riscos fundos, com a forna de cruzes e abertas.
Quem nelas se sentar fica encantado e se de lá levar algo para casa morrem-lhe todos os animais que possuir.
Há muitos e muitos anos, Joaquim da Bouça d´Arnosa, levou uma das pedras mouras para casa e, pouco tempo depois, morreram-lhe os porcos, galinhas e bois. O feitiço só passou depois de ele devolver a pedra ao sitio de onde a levara.
É assim que o povo conta a historia associada à lenda.
Já mais tarde, um mancebo de Jesufrei testemunhou que, quando era rapazito, andando a pastorear o gado, os seus patrões lhe recomendavam que nunca se sentasse nas pedras mouras, imbuindo-o de tal medo, que nem de perto delas passava" in Entre a Estória e a História" de Abílio Brandão
Nota pessoal: O autor refere que viu e descreve as ditas pedras mouras num pequeno "montado e pinheiral, vedado por parede". Procurei alguma pista que me levasse até elas mas ainda não consegui encontrar entre os habitantes alguém que conheça a lenda ou a bouça e muito menos a existência das pedras.